Marcos Macri e seu maior sucesso, o Vale dos Monstros.
A poucas semanas do lançamento do
Jester, sétimo jogo da linha
MS Jogos, decidimos entrevistar o grande amigo Marcos Macri que nos falou um pouco sobre sua trajetória e o que podemos esperar do autor em 2016.
E aí tem Jogo? Primeiro gostaríamos de saber um pouco de você, como começou a sua história com os board-games e como você passou de jogador para autor?
Marcos Macri : Olá amigos e leitores do E Ai Tem Jogo?
Os jogos de tabuleiro sempre fizeram parte da minha vida, desde a infância. Cresci jogando
War com minha família, todo domingo a tarde. Fui também um fiel colecionador de todos os jogos de estratégia lançados pela Grow na década de 80:
Cartel,
Waterloo,
Eleições,
Alaska,
Jogo do Poder,
Supremacia, etc. Nessa mesma época eu já criava alguns jogos e testava com amigos. Um pouco mais tarde, nos anos 90, atravessei a fase do RPG e também criei minhas próprias aventuras. Nessa época fui contratado pela Mauricio de Souza Produções e trabalhei como ator durante doze anos no Parque da Mônica em São Paulo (tenho formação teatral), período no qual acabei me afastando um pouco do universo lúdico, infelizmente.
Jester saindo do forno.
Em paralelo ao Parque, eu investi muito em minha carreira de mágico profissional, e isso me levou a pedir demissão em 2004 para atuar exclusivamente na Arte Mágica. A partir daí, com maior disponibilidade de tempo e energia renovada, retomei o contato com o as atividades do meio lúdico. Como moro em São Paulo, passei a frequentar a Ludus Luderia e vários eventos relacionados ao hobby. Descobri os jogos modernos, me apaixonei pelo estilo europeu, comprei dezenas e dezenas de jogos, e usei-os como referência e fonte de inspiração para criar e desenvolver meus próprios títulos. Assim surgiram,
Pássaros e
Vale dos Monstros em 2011,
Gran Circo em 2012,
Viagem no Tempo,
Dogs e
OVNI em 2013,
Shazam em 2014,
Aquarium e
Jester em 2015.
EatJ? Hoje, depois de 12 jogos lançados, alguns difíceis e outros impossíveis de conseguir, você acabou se tornando o autor mais “cult” do boardgame brasileiro, como é essa relação de ter tanta gente pedindo reprint dos seus jogos da MS Jogos e se você pretende resgatar os títulos lançados por outras editoras?
MM : Bem, quando eu idealizei o modelo de publicação da
MS Jogos em 2012, não tinha exatamente como prever o resultado e o efeito das tiragens limitadas de 200 cópias. Produzir com recursos próprios, sem usar a ferramenta do financiamento coletivo, foi uma decisão minha desde o início, por razões diversas, algumas pessoais e outras técnicas. Particularmente eu gosto da ideia de você acessar o site de uma empresa, seja ela qual for, escolher um produto, comprar e receber alguns dias depois. Por isso, todo o meu esforço foi concentrado nesse sentido, ou seja, acreditar na minha ideia e no produto, planejar cuidadosamente, produzir, divulgar e vender depois.
Macri despachando seus jogos nos correios.
O que ocorreu a meu ver, nos últimos três anos, foi um crescimento do mercado, e isso consequentemente aumentou a demanda. A MS manteve certa peridiocidade de lançamentos e isso trouxe novos clientes. Esses jogadores descobriram nosso catálogo e passaram a solicitar a reimpressão dos títulos esgotados. Isso nos levou a reeditar o ano passado
Gran Circo e
Dogs.
Só para deixar claro, e até mesmo aproveitando a oportunidade, confesso que o meu maior desejo hoje, seria reeditar todos os jogos esgotados da MS. São seis títulos. Porém, esse é um projeto extremamente caro, que envolve muitos fornecedores, além de exigir um volume de trabalho imenso! Mas a intenção existe.
Quanto aos títulos que lancei através de outras editoras, aquele que encabeça a lista para ser publicado pela
MS Jogos, é sem dúvida alguma, O
Vale dos Monstros. Porém, como já disse em outras ocasiões, reeditá-lo seria um grande desafio, especialmente no que se refere aos meeples de madeira, para fazer juz à qualidade da primeira edição, produzida pelos meus amigos da Galápagos Jogos. Quem sabe no futuro!
Shazam, jogo nº 5 da coleção MS Jogos.
EatJ? Agora em novembro sai o sétimo título da linha MS Jogos, o Jester, como foi o processo de playtestes, a galera que joga tem ajudado nos feedbacks?
MM : Sim, com certeza! Eles ajudam, e muito!
É realmente impossível desenvolver um jogo, especialmente aqueles que possuem uma certa complexidade de mecânicas e pontuações diversas, sem uma bateria contínua de testes. Costumo dizer às pessoas, quando me perguntam, que a fase dos testes é a mais árdua. É um trabalho de campo mesmo, e você não pode delegar, você tem que estar presente, tem que pôr a mão na massa, ouvir críticas, analisar, desconstruir o que não funciona e reconstruir, várias vezes se necessário. É um período de exposição, de risco, de erros e acertos. O legal é deixar a vaidade totalmente de lado, entender que seu jogo não está pronto, pelo contrário, ele está em processo de desenvolvimento e é possível que algumas de suas ideias e/ou mecânicas, sejam lapidadas ou até mesmo eliminadas ao longo do caminho. Mas isso é normal e seguramente, durante a fase de playtest, surgirão naturalmente soluções para os entraves do jogo.
Macri com a amiga Lucy da Ludus Luderia.
Com o
Jester foi assim. Meses circulando por diversos lugares com o protótipo em baixo do braço. Tive momentos difíceis e outros reveladores. O grande “barato” é quando você descobre, junto com os jogadores que estão ali testando seu jogo, que se uma determinada mecânica for levemente alterada, isso dará maior equilíbrio e fluidez ao sistema. Daí você implementa a ideia, testa, testa novamente, e percebe que melhorou. Aí é gratificante, e você se enche de ânimo para continuar, porque há mais e mais trabalho pela frente. Especialmente quando é você mesmo quem vai produzir seu próprio jogo, como tem sido o meu caso desde 2012.
EatJ? Com esse título a MS Jogos fecha 2015, o que podemos esperar para 2016??
MM : Nós estamos num período conturbado da política e da economia no Brasil, infelizmente. Isso torna um pouco mais difícil planejar os investimentos a médio e longo prazo. Além disso, agora em dezembro serei papai, eheh... pela primeira vez... e isto trará mudanças para minha família e vai exigir a minha atenção especial nos próximos meses. Mesmo assim, posso afirmar que pretendo lançar, até junho de 2016, o n°8 da Coleção MS,
Chaparral, um euro com tema de velho oeste e mecânica principal de alocação de trabalhadores. E também é bastante provável que façamos, ao longo do ano, a reedição de pelo menos um dos títulos esgotados.
Aquarium, primeiro jogo de 2015 e um dos xodós do autor.
EatJ? Na sua opinião, qual o jogo que te deu mais orgulho quando foi lançado e qual merecia uma segunda chance?
MM : Puxa, essa é uma pergunta difícil. Cada jogo que lancei me trouxe um sentimento diferente. Sei que parece um clichê mas realmente, os jogos são como filhos para um Game Designer. Não tem como você não se apegar um pouco a cada um deles. E eu os procuro fazer diferentes uns dos outros. Aliás, depois que são lançados no mercado eles ganham vida própria e seguem seu caminho. Podem ter aceitação e rejeição, tudo ao mesmo tempo, isso é normal, e o designer já não interfere mais, apenas observa.
Em 2011, na minha fase anterior à MS Jogos o Vale dos Monstros me encheu de satisfação. O jogo foi muito bem e vendeu toda a tiragem de 1.000 cópias. A partir da MS eu me tornei o responsável direto pelo resultado final de produção dos jogos. Tive erros e acertos. Nosso mercado foi ficando cada vez mais exigente e a responsabilidade do editor é muito grande. Voltando à sua pergunta, eu diria que o Aquarium (maio/2015) me deixou satisfeito, especialmente porque esse jogo teve uma trajetória conturbada com outras editoras antes que a MS assumisse em definitivo a sua publicação. Ele também marcou um pequeno avanço, talvez imperceptível para alguns mas significativo para nós, que foi o aumento do tabuleiro principal dos jogos da MS, 2cm na largura e 2cm na altura.
Reprint do Dogs que começou a desbravar o mercado exterior.
Mas nesse momento, a menina dos meus olhos é o
Jester, eheh... E aqui não posso deixar de comentar o trabalho excelente que o Diego Sanchez fez com a arte desse jogo. Ele se esforçou muito, captou com muita sensibilidade e criatividade a essência do tema, e em pouco tempo (o prazo era curto) ele alcançou um belíssimo resultado, especialmente no tabuleiro principal.
EatJ? Hoje você já é um nome de sucesso no Brasil, já está na hora de desbravar o mercado fora do país?
MM : Áh... quem sabe! Seria maravilhoso! Qual designer não quer ter seu trabalho reconhecido internacionalmente, não é mesmo! Quando lançamos o DOGS 2ª edição em dezembro de 2014, ele ultrapassou nossas fronteiras e foi resenhado pelo Richard Ham (Rahdo). Essa visibilidade espontânea do jogo fora do Brasil causou a venda de dezesseis unidades para Europa e Estados Unidos. Posteriormente fomos procurados por uma editora estrangeira e ainda estamos num processo de conversação (isso costuma ser bastante demorado). Acredito que as coisas acontecem naturalmente, como resultado e consequência do nosso trabalho. Também não podemos nos esquecer que lá fora, existem centenas e centenas de designers, ou seja, a concorrência é consideravelmente grande, se levarmos em conta que os editores não conseguem absorver todos os títulos disponíveis e que lhes são oferecidos frequentemente.
Vale dos Monstros, sucesso que pode voltar às prateleiras.
EatJ? Obrigado pela entrevista, esperamos um grande sucesso para o Jester.
Eu agradeço a você Cacá, por me conceder espaço em seu blog para esta entrevista.
E também gostaria de registrar aqui um agradecimento especial a todas as pessoas, jogadores e aficionados pelo nosso hobby, que de alguma forma interagem com o meu trabalho e com a MS Jogos, seja curtindo, compartilhando ou comentando em nossa
Fanpage, comprando, resenhando ou apenas jogando um de nossos jogos, fazendo perguntas, criticando e dando sugestões. Essa interação com vocês é muito importante para nós e fundamental para a continuidade das nossas atividades.
Um grande Abraço a todos e Boas Jogatinas!