Em Hegemony temos um país fictício onde as classes sociais lutam pelos seus interesses, enquanto os trabalhadores querem mais empregos os melhores salários, a classe média pensa em prosperar com suas pequenas empresas, os capitalistas querem lucrar muito e o Estado está querendo tirar um pouquinho de cada um.
Usando uma assimetria muito inteligente, cada uma das quatro classes trabalha e pontua de formas diferentes, mas ainda assim como na realidade que vivemos existem pontos de convergência tanto nas ações quanto nas políticas que são apresentadas.
Inicialmente cada jogador vai escolher uma das quatro classes e pegar todos os componentes referentes a ela e se posicionar na mesa de forma a ficar perto da sua área de jogo, cada uma das quatro classes tem jogabilidades e objetivos diferentes mas a estrutura de turno é similar para todos.
O jogador terá cinco turnos onde poderá usar cartas com as ações descritas nela ou então jogar uma carta fora para usar uma das ações referentes a sua classe e então ao final dos cinco turnos passamos para a fase de produção onde temos produção de bens, atendemos as necessidades dos trabalhadores, pagamos impostos e essas coisas.
Uma vez passada essa fase temos a parte política do jogo, durante a fase de ações os jogadores vão propor propostas de leis para mudar alguma lei vigente de taxas, importações, teto de salários e afins, caso haja alguma PL para ser votada os jogadores precisam decidir suas posições na votação e são sorteados cubos (votos) das classes para ver se a proposta passa ou não.
Essa é uma das (muitas) partes interessantes do jogo, conforme os turnos vão passando você vai percebendo que algumas situações políticas podem agradar a um ou a outro, então é bom você apresentar alguma PL antes de outra classe ou então assegurar que tenha mais votos colocando mais cubos no saquinho de votação.
Passada a parte política os jogadores vão pontuar cada um de uma forma conforme descrito na sua ajuda de jogo, inicialmente os capitalistas e o Estado pontuam bem, então os jogadores da classe média e os trabalhadores precisam agir para não ficarem muito atrás nas pontuações durante o jogo.
Como disse anteriormente o que "explode a cabeça" ao jogar Hegemony é a assimetria mas com pontos de interseção entre os jogadores, no capitalismo precisamos contratar trabalhadores da classe média ou da classe trabalhadora e existe uma diferença entre eles muito importante, a possibilidade de greves e a luta por mais vagas de empregos, já a classe trabalhadora precisa dessas vagas então força uma barra pra que mais empresas sejam abertas, a classe média precisa empreender, mas depende de taxas mais acessíveis então está sempre de olho pra não pagar muito e o Estado, bem o Estado quer dinheiro senão o FMI vem e bagunça tudo.
A partida de Hegemony é um eterno "CARALHO, QUE FODA!" se é que você me entende. O jogo é de um brilhantismo absurdo, tudo parece ter sido muito bem pensado (haja visto a quantidade de cientistas políticos participando do projeto) e o resultado final é um jogo em que a engrenagem roda perfeitamente.
Pode ser que você se incomode com a aleatoriedade na compra de cartas, de uma rodada você ter ações não tão boas para aquele momento do jogo, mas pelo que eu senti do deck das classes é que você não vai ter ações ruins, são sempre situações em que se você precisar jogar uma carta fora acaba doendo mais no coração do que você achar que sua mão está muito ruim.
A partida vai durar 5 rodadas e ao final delas (diria que uma hora por jogador é um tempo de jogo comum para ele) contam-se pontos baseados na sua ficha de classe e quem tiver mais avançado na trilha de pontuação é o vencedor.
Há muito tempo não me surpreendia tanto com um jogo, Hegemony é brilhante em muitos sentidos, na forma como as classes jogam, na interação entre os jogadores, nos detalhes das cartas, tudo foi muito bem pensado para passar uma experiência de jogo que para quem tem uma mínima noção que como o "mundo gira" vai ficar de queixo caído e para mim é fácil o melhor lançamento de 2023.