Como todo jogador envolvido no hobby, ir a SPIEL é uma meta que a gente sempre quer atingir quando descobre do que se trata. Já estava me programando para tentar ir há algum tempo, mas devido principalmente aos custos, tudo precisa ser bem pensado e planejado.
Esse ano consegui ajustar as coisas e ainda tive uma motivação extra, o fato de ter a editora, que aumentou a vontade (e de certa forma a necessidade) de ir para o paraíso dos amantes do tabuleiro.
Planejamento
Comecei meu planejamento em abril, assim que comprei as passagens. Como a minha viagem não era apenas pra Essen (aproveitei pra esticar as férias na Europa), tive que estudar bem as opções, e acabei enquadrando a viagem de forma que a feira encaixasse no final dela. Pensei nisso principalmente pelas malas que eu possivelmente teria que carregar se eu fosse viajar depois, então decidi passar pelos outros lugares antes. Foi uma boa escolha, apesar de nem ter comprado tanto. Como tive bastante antecedência também consegui comprar Euros com uma taxa melhor e fiquei também ligado no site oficial da feira para comprar os ingressos assim que a venda iniciou.
Aqui vale uma informação para os que tem interesses comerciais na feira: existem tickets por dia e um passaporte para os 4 dias (que sai mais em conta do que comprar 4 diários). Além desses, para quem vai fazer negócios, existe o Trade Visitor Ticket. Ele é vendido em passaportes de 2 dias, e tem a opção de incluir estacionamento. A grande diferença dele é que ele contempla acesso ao Business Lounge, que nada mais é do que um restaurante no pavilhão 3 que fica completamente reservado para quem comprou este tipo de ticket. Além de ter sido bem prático pra fazer algumas reuniões, ajudou na hora de almoçar – momento em que tudo fica bem lotado – pois comer lá dentro foi super tranquilo e confortável.
Hospedagem
Outra decisão a ser tomada - e dúvida de muitos - foi ficar em Essen ou em cidades periféricas a ela. Ficar em Essen é ótimo por motivos óbvios, porém, pode ser mais caro, além do fato de que os principais hotéis já são reservados logo após o término da feira para o ano seguinte (já tentei fazer reserva para 2020 em 2 hotéis recomendados por amigos e não tem mais vagas). É fato que se pode conseguir um Airbnb, mas nesse ponto, recomendo começar a ver já para não ter que ficar apertado lutando por opções ruins. Eu acabei ficando em Düsseldorf, também porque minha esposa estava comigo e para ela seria mais interessante ficar por lá enquanto eu estivesse na feira. O transporte que utilizei de Düsseldorf para a feira foi o trem, ida e volta por 4 dias custa em torno de 80 euros, portanto vale levar isso em conta na hora de decidir ficar mais distante. O trajeto varia entre 40 e 60 minutos, e é relativamente simples. A partir da estação central (Essen Hauptbahnhof), tudo é bem sinalizado para a feira, então é muito tranquilo. São 4 estações até a entrada da feira (Messe Ost/Gruga). A saída da estação é na cara da feira.
Estrutura
A feira é composta de 6 pavilhões e a Galeria, que é um grande corredor entre elas e se torna o elo de acesso entre os pavilhões 2 e 3 até os pavilhões 4 e 5. Existem 3 entradas: a do metro que eu citei é pelo pavilhão 8 (me parece que foi uma novidade dessa edição) e outras duas pelos pavilhões 1 e 3. Na ilustração dá para se ter uma ideia da disposição dos pavilhões (1 a 6 compõem a área da feira em si).
De modo geral, apesar de não ser algo claramente definido, percebi algumas características entre os pavilhões: as maiores empresas e seus super stands estavam majoritariamente nos pavilhões 1, 2 e 3. Os pavilhões 4, 5 e 6 eram cheios de stands menores, e com mais diversidade entre editoras, fábricas, acessórios, etc. O 6 tinha ainda alguns stands de jogos usados, com uma grande oferta de jogos para garimpar.
Existem diversas opções de alimentação, como restaurantes, food trucks e cafés, que ficam geralmente em extremidades e alguns deles na Galeria (que além destes, também hospeda stands com atividades para crianças, Carcassonne gigante, etc). Achei tudo bem organizado e relativamente fácil de se localizar e locomover. A organização disponibiliza em pdf um guia completo da feira em formato de revista no site algum tempo antes da feira, e também disponibiliza essa mesma revista fisicamente na entrada (https://www.spiel-messe.com/en/spiel-guide/).
A feira para o jogador
Já tinha ouvido bastante sobre a SPIEL ser uma feira muito mais pra negócios do que pro publico em geral, e apesar de não ter ido à GenCon ainda – que é o principal parâmetro de comparação – vi muita oferta de mesa pra todos os gostos. Logicamente que em sua maioria, versões de avaliação, mas no geral, quem quer ir a Essen para jogar, vai ter muita opção.
Como fiquei em Düsseldorf não tive a oportunidade de participar das atividades pós-feira que o pessoal costuma ir, como eventos de editoras, Unperfekthaus ou mesmo as jogas nos hotéis, mas certamente se eu for à feira ano que vem, volto para contar sobre isso.
Uma coisa interessante que eu não sabia e acabei descobrindo sem querer: o pavilhão 7, que é uma das portas de entrada e fica completamente sem stands, apenas uma área vazia, se torna durante a feira um grande “mercadão” de trocas e vendas. Estava saindo num dos dias e quando entrei nesse pavilhão tinha um monte de gente com plaquinhas levantadas. Achei bastante curioso e já sei que posso aproveitar esse “mercadão” numa próxima oportunidade!
A feira para compradores
No quesito compras, opções não faltam. Editoras vendem seus lançamentos, promos e exclusividades em seus stands, diversas lojas se posicionam perifericamente nos pavilhões e ainda existem as opções já comentadas dos stands de usados e do “mercadão” informal. Tirando os jogos, que logicamente são o carro chefe dos compradores fervorosos, existe uma infinidade de opções de acessórios pra jogos como inserts, dados, cenários, miniaturas, camisas e roupas para cosplay, enfim, dá pra comprar de tudo, porém eu não achei que os preços eram tão convidativos. Não vi nada muito em promoção, e o fato de estarmos tudo ser em Euros, piora bastante pra gente. Apesar de tudo existem boas opções se você andar com calma e procurar (só não pense que por ser feira vai ter saldão).
A feira para negócios
Como em diversos ramos de negócio, esse tipo de grande feira é um momento pra se encontrar com muita gente que normalmente só temos contato por e-mail ou Skype. E como em quase tudo, networking é importantíssimo. Consegui marcar algumas reuniões com antecedência - o que é essencial porque na hora é bem difícil se conseguir um tempo do pessoal que está expondo – e foi muito legal ter esse contato pessoal com os parceiros já estabelecidos e fechar novas parcerias. Algumas reuniões foram nos próprios stands, em salas reservadas, outras consegui fazer no Business Lounge (que salvou a pátria!) e outras foram menos formais, meio que fora da feira. Acho que de forma geral, a feira abraça esse lado “business” com bastante louvor. O mercado internacional já é muito maduro e é bastante perceptível o preparo das empresas para este momento. Muito legal e importante o contato com as fábricas (em sua maioria chinesas) e ter a oportunidade de trazer pra casa o material promocional que várias delas oferecem para que a gente possa ter ideia do que cada uma produz e da qualidade do material.
Minha conclusão: se tiver a oportunidade vá, sem pestanejar. O ambiente é super legal, você certamente vai poder se divertir muito, jogar muito, encontrar seus designers e produtores de conteúdo preferidos para tirar aquela foto marota e participar dessa suntuosa celebração ao nosso tão amado hobby.
Espero poder repetir a dose em 2020!
Um agradecimento especial ao amigo Leandro Nunes (da Imagine Jogos) que gentilmente escreveu essa postagem para nós com a sua experiência durante a feira.