sexta-feira, 16 de abril de 2021

Made in Brasil


Essa semana ao escrever a resenha do divertido Arquimedes do mestre Knizia recebi um comentário falando que se fosse um jogo de autor nacional ele não seria publicado, isso além de não ser verdade mostra um pouco de desconhecimento do quanto evoluímos em matéria de designers brasileiros e quantidade de jogos lançados tanto aqui quanto no exterior.

Na real é que nunca se lançou tantos jogos de autores nacionais quanto hoje, atualmente temos duas campanhas fundadas (Desejos do Sultão e Jester), a Meeple BR fazendo um barulho bacana para o lançamento do Brazil: Imperial e um evento mensal de apresentação de novos projetos o Proto BR.

O grande lance aqui é observarmos o mercado nesses últimos 10 anos. Em 2011 eu fui a ABRIN cobrir o lançamento do Catan pela Grow mas também pra dar uma moral para três lançamentos da Tóia, na época uma empresa de varejo que estava querendo entrar no ramo dos tabuleiros modernos.


Recicle : Tempos de Crise, um dos primeiros jogos

"self-made" do mercado brasileiro.

Naquela época tínhamos pouquíssima coisa acontecendo no cenário nacional, empresas como a Galápagos davam seus primeiros passos com Último Grande Campeão, a Ceilikan tinha alguns títulos próprios, os amigos Luish Coelho tinha o Recicle : Tempos de Crise lançado no braço assim como o Marcos Macri começava a aparecer e a desenhar o que seria a primeira editora "self-made" do mercado nacional.

De lá pra cá muita coisa andou, o cenário cresceu muito com a chegada firme das editoras e os eventos de protótipos como a Mansão Convida, o evento da Game of Boards e principalmente o espaço dentre do Diversão Offline fizeram aparecer dezenas de autores e muitos jogos começaram a despertar o interesse do mercado.

Mas o processo entre ter uma ideia, rabiscar um protótipo e ver seu jogo efetivamente ser lançado não é fácil, não é divertido e requer resiliência, paciência e principalmente contatos, e aqui eu não falo na questão das "costas quentes", aqui é você ir atrás das pessoas com alguma bagagem, conversar com outros autores, com editoras, com o público e saber ouvir críticas.

Sempre houveram os espaços para os novos talentos
aparecerem e sempre com apoio do público.

Uma vez em um evento eu ouvi de um autor "falem mal de mim, mas não do meu jogo", resultando, eu nunca sentei para jogar nada desse autor à partir daí, se a pessoa não está aberta a ouvir o que outros tem a oferecer de crítica, ele não vai a lugar algum.

Falo isso aqui como designer, na época do desenvolvimento do Die die DIE a gente anotava tudo o que nos era falado, as notas baixas que recebemos na Ludopedia sempre mandamos mail pra quem as deu para saber o que a pessoa tinha achado de tão ruim no jogo e com isso crescemos enquanto autores (eu e o Romulo Marques).

O autor que pensa que tem uma ideia maravilhosa, mas recebe várias portas fechadas de editoras tem também sempre a oportunidade de partir para o campo do "do it yourself", e aqui no Brasil temos vários exemplos de casos de sucesso como a Dijon Jogos, a Moby Studios, a Game Hives dentre outras que decidiram lançar os seus jogos criando a própria editora.

O mercado é muito inclusivo, caras como Sergio Halaban
(de verde) estão sempre dispostos a ajudar.

"Ah, mas dessa forma nunca atingiremos o mercado de massa", o lance aqui é que apenas duas editoras tem entrada no mercado de massa, a Grow e a Estrela, e a primeira foca nos jogos em que ela se mantém estável já a Estrela está começando a apostar nos jogos modernos, tanto que tem anunciado jogos de autores saídos dos grupos de designers como o Alexander Francisco e o Daniel de Sant'anna.

Esse discurso de que as editoras não aceitam as ideias de autores nacionais é furado, os lançamentos estão aí para provar o contrário, mas você precisa ter um produto minimamente consistente pra que a editora invista nele, não adiante vir com o papo de que "meu jogo merece uma chance" ou "como saber se vai ser sucesso, se nem lançou" porque ninguém vai investir tempo e dinheiro em algo que eles não tenham alguma chance de retorno, e acredite, as editoras tem esse know-how.

Se você fizer as coisas direito, seu projeto
vai acontecer!

Você pode então ficar reclamando nas postagens ou então arregaçar às mangas e ir pra luta, tem autores que estão aí na batalha desde que a gente ainda jogava WAR, caras como o Sergio Halaban que apesar de serem autores super renomados vão aos eventos com protótipo debaixo do braço, ouvem conselhos e sugestões para os seus jogos e principalmente sempre estão abertos à dar conselhos e trocar ideias.

O mercado não está parado, lançamentos de jogos de autores nacionais estão acontecendo todo mês, a qualidade das produções nacionais estão cada vez melhores, então ao invés de reclamar, ponha o seu projeto na rua que o público tá aí, cada vez mais jogadores aparecem e os jogos brazucas estão aí... Pra ficar!

Meu conselho? Persevere, ouça, rale que se você
tiver um produto de qualidade, ele vai aparecer.
 

3 comentários:

Unknown disse...

Cara, recicle merecia uma nova edição urgente!

Unknown disse...

Cara, recicle merecia uma nova edição urgente!

João Cavalcanti

Cacá : E aí, tem Jogo? disse...

Com certeza! Jogaço...